Nunca pensei escrever um livro, no entanto por vezes preciso
pôr no papel o que me vai na alma, possivelmente uma forma de exorcizar os meus
fantasmas, são tantos ao longo dos anos, alguns vou apagando ou guardando no sótão
do esquecimento, mas sei que não é esquecendo mas enfrentando os medos, as
situações mal resolvidas que a aceitação da vida acontece.
Demorou talvez anos demais o processo de procura interior,
para começar a levantar o véu do entendimento do porquê do meu sofrimento e a
falta de amor desde que me conheço por gente, muito vou esquecendo é como um
filtro que encontro para me proteger da dor.
A minha primeira lembrança é com dois anos e meio quando a
minha mãe biológica de deu a outra família, era uma sala com três poltronas que
eu não parava de subir e descer, o primeiro momento de felicidade que me
recordo, hoje com 56 anos volto atrás e descubro que são na verdade os pequenos
momentos que se podem chamar de “felicidade” e que ficam gravados na mente de
uma menina.
Cheguei a este mundo com a fragilidade de uma criança, mas
com a força intrínseca de Deus, vim não sei se em expiação se com uma missão,
mas sei que neste meu caminho terreno Ele sempre me pegou ao colo quando eu
jazia caída já sem forças para continuar, ainda que eu na altura pensasse que a
força vinha de mim e que estava sozinha no mundo, Deus sempre se manteve junto
de mim.
Maria José Pereira (Luna)